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terça-feira, 25 de maio de 2010

Comentário final

Termina aqui o nosso trabalho sobre esta obra. Podemos dizer que, estudar intensamente um romance histórico, foi uma experiência enriquecedora e interessante. Ao longo da análise da obra, deparámo-nos com muitas personagens que podem levar à confusão do leitor menos atento. Mas o facto de ser uma história verídica, prende a atenção do leitor.

A leitura desta obra levou-nos a perceber a história dos judeus e criou-nos curiosidade para conhecer o seu percurso. Exemplo disso foi a nossa ida ao Museu Judaico de Faro e a investigação bibliográfica e na internet que fizemos. É de destacar os locais históricos que passámos a conhecer e as vivências de certas personalidades que foram importantes na época.

Fazemos um balanço positivo e recomendamos a todos a leitura desta obra.

Conclusão

Enfrentando o ódio dos Habsburgo, dos papas e da República de Veneza, a figura histórica e lendária de Gracia Nasi, a jovem viúva de um rico banqueiro português, encarna ainda hoje a coragem, a obstinação e a dor dos judeus sefarditas, obrigados a migrar de território a território, numa Europa quinhentista marcada pelo signo da Inquisição.

De Lisboa a Istambul, passando pelas costas da Palestina e ilhas do Mediterrâneo, Catherine Clément acompanha a trajectória dos Nasi, inventariando intrigas amorosas, querelas teológicas, alianças políticas e interesses comerciais. O resultado é um romance histórico fascinante, que recria com perfeição uma das passagens mais impressionantes da era moderna, quando se decidiam os destinos de judeus, cristãos e muçulmanos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Capítulo X - O Último Sabat

Este último capítulo passa-se em 1579 e começa com a vingança de Occhiali, um jovem brilhante e Judeu da Polónia. Occhiali fez uma razia nas costas adriáticas, à volta de Cândia, Zante e Cefalónia. Este afogou o mar num espesso fumo branco e fugiu com toda a armada. Enganando pela 3ªvez D. João da Áustria, tendo este que se retirar e dar-se por vencido.

Josef recorda-se de tudo o que viveu, de todas as suas viagens e acontecimentos importantes da sua vida com Beatriz. Conheceu Salomão Eskenazi, um jovem judeu, apresentado por Sokolli, que finalmente havia obtido a paz com a vingança de Veneza. Salomão confundiu Josef, dizendo que Beatriz se havia vingado do Papa e não de Habsburgo, Josef duvidou da sua veracidade. Mas acabando por acreditar nele, e como este lhe havia dito que Sokolli procurava concluir um tratado de paz com Filipe II, Josef escreveu-lhe uma carta procurando que isso acontecesse. Veio a descobrir mais tarde que a carta tinha sido falsificada e nem tinha sido enviada. A carta tinha sido dada a conhecer a Sokolli, que não acreditou na sua palavra e nomeou Salomão como seu conselheiro particular.


Após tudo isto Josef toma gosto pelo teatro e inspirado na Senhora, reescreve “Ester” com base nas lembranças que tinha de Beatriz, para colocar em cena no quinto aniversário da sua morte.

Ester - A Bíblia Sagrada

Apoia Selim até ao seu último suspiro sentindo-se, mais uma vez desde a morte de Beatriz, impotente. Por fim Josef descobre que a Duquesa deixou de ser muda, mas ordenada por Beatriz fingiu continuar a mudez mesmo após ter ganhado a fala.

Capitulo IX – Morreu a flor esplêndida do exílio de Israel

O capítulo IX passa-se entre os anos 1569 e 1571. Josef recorda Beatriz e tem esperança que ela regresse de Safed “Beatriz desaparecera, não conseguia acreditar; ora, era uma separação como todas as outras, uma nova mania, ela não havia de resistir, voltaria”. A inquietação pelo amor e pela vida de Beatriz ocupa o seu pensamento até ao dia em que rabi Jeremias o informa da morte da aclamada e soberana Senhora.

Jeremias conta que a Senhora foi bem acolhida em Safed, desde logo começou a estudar, praticava meditação e o seu mestre rabi Isaac numa noite de Sabat a levou ao cemitério, onde este costumava invocar os mortos. Durante a meditação a Senhora falecera. Josef reage mal perante a mensagem de Jeremias culpando rabi Isaac pelo que aconteceu a Beatriz.

Ilustração de um Rabi

Fazem-se grandiosas cerimónias em memória da Senhora. Em todos os lugares surgem construções em nome da “Sereníssima Princesa, a Glória de Israel, a flor esplêndida do Exílio que alicerçou a sua casa sobre a pureza e a santidade, protegeu os pobres e salvou os aflitos”. Durante a sua celebração na Grande Igreja de Istambul o rabi Soncino traça à Senhora um forte elogio.

Basílica de Santa Sofia. Istambul

Jeremias entrega a Josef um cofre que a Senhora lhe deixou. Neste, Josef descobre um papel com a letra de Beatriz. Esta chama-lhe bem-amado, revela-lhe os seus segredos e ainda que espera por ele "no seio da Grande Alma".

Na parte final do capítulo, o Duque de Naxos fala com orgulho do Grande Arsenal da Sereníssima, uma fábrica de galeras. Ele afirma que o Arsenal ardeu e que a honra da Senhora estava vingada. Conta ainda que por volta desta altura reencontrou Faustina, os dois vivem um momento caloroso e Josef acautela-a sobre as tropas otomanas. A Santa Liga estava prestes a ser constituída e a guerra pela qual esperava havia muito tempo, estava a explodir.

Beatriz profetizou a derrota do Império Otomano face aos príncipes do Ocidente e não se engana, o que esperaram tanto acontece.

Josef Nasi – O Duque de Naxos

A história de Josef Nasi (1505 - 1579) é fascinante. É rica em aventura, coragem e resistência, mas também nos traz à mente a vida trágica que os judeus tinham naqueles tempos, quase no fim da Idade Média.

Joseph nasceu em Espanha, quando a Inquisição estava no poder. Órfão, foi criado por dois tios que tinham adoptado nomes espanhóis, Francesco e Diego Mendes. Os membros da família Mendes eram banqueiros de reputação mundial. Depois da morte de Francesco e Diego Mendes ficou sob os cuidados de sua tia Gracia Nasi.

Naxiotas, séc. XVIII, Ilustração de "Relation d'un voyage au Levant", 1781

O jovem Josef que cresceu como um homem de educação refinada, quando teve idade suficiente, assumiu a administração da grande casa bancária, que tinha renome mundial. No decorrer dos seus negócios Joseph fazia contacto com a mais alta nobreza e até casas reais de muitos países europeus. O Rei da França pediu uma grande quantia emprestada ao banco Mendes. Outro cliente era a Rainha Maria, regente da Holanda (irmã do Imperador Carlos V).

Josef Nasi, o brilhante jovem banqueiro, casou-se com sua prima, a bondosa e justa Reyna, filha da sua tia Gracia. Criou uma próspera empresa de importação e exportação entre os países do Velho e do Novo Mundo. O Sultão logo notou o grande génio deste novo súbdito e dedicava-lhe muita atenção. Joseph usou a sua influência com o Sultão para ajudar os seus irmãos que sofriam devido às perseguições, encorajadas pelo Papa Paulo IV em Roma.

O auge da carreira diplomática e comercial de Josef foi quando o seu amigo Selim II se tornou Sultão com a morte do pai. Um dos primeiros actos oficiais do novo Sultão foi retribuir os serviços leais de seu amigo judeu e nomeou Joseph como Duque da Ilha de Naxos. Morava no lindo castelo Belvedere em Constantinopla, a capital do Império Otomano.

Constantinopla, capital do Império Otomano

Josef Nasi tinha grande influência sobre Selim II, embora o grão-vizir Sokolli, um bósnio de carácter duvidoso, fizesse todo o possível diminuir a confiança do Sultão no seu conselheiro judeu. Os governantes da Europa logo perceberam a grande importância de Joseph no poderoso império do Sultão e procuraram a sua amizade. Outro monarca que estabeleceu relações de amizade com Joseff Nasi foi o Rei Sigismundo da Polónia. Graças a esta amizade, o Rei da Polónia tratava seus súbditos judeus com bondade.

Após a morte do amigo Sultão Selim II, a sorte de Josef mudou. O novo governante era o cruel Murat, que estava sob a influência do pior inimigo de Josef Mohammed Sokolli. Os serviços de Joseph não eram mais exigidos pelo novo Sultão, e Josef retirou-se para uma vida pacífica de estudo e boas acções no seu castelo de Belvedere.

Estabeleceu uma imprensa judaica em sua casa, que passou a publicar muitas obras importantes. A sua extensa biblioteca estava aberta a todos os eruditos. Escreveu um livro em defesa da religião judaica em espanhol, que depois foi traduzido para hebraico por um de seus protegidos, sob o título "Ben Poroth Josef".

Documento de Josef Nasi

Quando Josef Nasi, Duque de Naxos, faleceu em Constantinopla no Verão de 1579, todo o mundo judaico lamentou a sua morte. Só o Sultão ficou contente com a morte deste grande homem, pois confiscou toda a sua fortuna. Até a viúva de Josef, a generosa Reyna que faleceu em 1599, teve de deixar o lindo castelo em que vivia. A imprensa hebraica fundada por Josef foi fechada. Alguns anos mais tarde, o corcunda disforme a quem Josef contou toda a sua história, percorria todas as tavernas de Londres contando maravilhosos acontecimentos que quase ninguém acreditava. Um estudante de nome Christopher Marlowe, já embriagado, quanto escutou algumas das histórias só se lembrou de uma parcela da verdade. Consequentemente, fez uma peça intitulada O judeu de Malta que retratava um mau negociante judeu que havia enganado os príncipes europeus. Mais tarde, William Shakespeare, transformou Josef Nasi em Shylock, O Mercador de Veneza. Assim, a morte de Josef colocou um fim à obra da sua vida, mas a lembrança de seus grandes feitos, e a honra que ele desfrutou, permanecem através dos tempos.

William Shakespeare - O Mercador de Veneza


Fonte: www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/personalidades.html

Capítulo VIII - Eyup, ou a Liturgia do Adeus

Este capítulo passa-se entre os anos de 1566 até 1569. Josef encontra Reyna a cantar, como à muito não fazia, para o primo Samuel (marido de Chica). Num acto precipitado, espanca os dois mas é separado por Beatriz que de tudo já sabia. Desconfiou-se que Reyna estava grávida e que perdeu a criança devido a tanta violência.

Josef, desconfiado que Sokolli tivesse assassinado Sampiero Corso, patriota amigo de Josef, velou pelo seu amigo Selim. A partir de agora, era Josef que o iria alimentar com comida selada e protegida de venenos. Selim agradeceu o gesto e queria compensa-lo de alguma forma. Josef pensou em Chipre onde o desejo de ser rei se revelou. Mas isso ainda não era possível e Selim deu-lhe antes a ilha de Naxos, na Grécia.

Localização da ilha de Naxos

Mapa de Naxos

Esta ilha parecia parada no tempo, era tudo muito antigo mas digno. Lá, a família Mendes encontra Francesco Coronello, filho de Abraão Senior, o primeiro dos Marranos. A coroação de Josef, duque de Naxos e das Cíclades, deu-se então ao que a população local não aceitava bem a mudança de soberano. Josef afirma perante todos que nenhuma religião irá ser proibida naquelas terras "Nenhuma, nem sequer as dos meus antepassados".

Naxos, a maior e actualmente a mais auto-suficiente ilha dentro das Cyclades devido à sua grande produção agrícola e de lacticínios

Selim havia ordenado a Sokolli que preparasse a guerra contra Chipre e em breve Josef se tornaria rei. A ideia não agradava a Beatriz que acreditava que a melhor opção era realizar casamentos e consequentemente alianças.

Depois, em 1569, deu-se um incêndio em Galata, na ilha de Naxos. Brianda que se aproximou imprudentemente do fogo, ficou com queimaduras graves e acabou por falecer. Reyna, por sua vez, ao ir socorrer uma criança foi raptada por um grupo de janízaros que pilhavam a zona e até violavam as mulheres. Nenhum mal foi feito a Reyna mas com o susto perdeu a fala.

Beatriz, ao deparar-se com estas desgraças, enfraqueceu. Ao constatar que estava velha fez o seu testamento, realizando uma festa para a sua assinatura. A sua última festa foi esplendorosa e todos se comoveram. A Senhora mostrou o desejo de partir para Safed onde acabaria os seus últimos dias.

Antes da viagem, encontra-se com Josef e declara-se: "A minha vida foi senão uma longa espera por ti".

Capítulo VII - As Amoreiras da Palestina

Este capítulo passa-se entre os anos 1558 e 1566. Josef Nasi é nomeado príncipe europeu, a pedido do príncipe Selim. Beatriz pede-lhe que renuncie, acusando-o de traição por aceitar um título otomano. Mas Joseph nega-se a renunciar, diz-lhe que já bastou ter andado às suas ordens toda a sua vida e tê-lo obrigado a casar com Reyna.

Samuel Nasi juntou-se então à família. Era um primo que tinha passado com eles a infância em Lisboa. Beatriz decidiu casa-lo com Chica, e a partir dai Samuel ocupou-se da casa. Pôde assim Josef entregar-se por inteiro às suas actividades políticas, e foi-se desligando da família Nasi.

O rei Filipe II, filho do Habsburgo, havia jurado derrotar o Império Otomano, e manifestava muita determinação, paciência e persistência. Começou por quebrar a aliança que unia há muito o sultão Solimão e o rei de França e fez as pazes com este país. A paz com França permitia a Filipe II conduzir a sua própria política, e estando liberto de problemas fronteiriços, voltou-se contra o Otomano.

Rei Filipe II, filho de Habsburgo

Atacou Djerba e o almirante Piali Paxá dirigiu-se ao seu encontro. Roustem Paxá dizia a Josef que a batalha estava ganha, e que Piali Paxá estaria de volta vitorioso antes do Inverno, e assim foi. Em Outubro estava de volta, com um chegada triunfal, momento em que aproveitou para renovar a proibição do vinho. Sultão Solimão concedeu honrarias a Josef, queria que a família Nasi cobrasse as dívidas que a coroa francesa tinha para com eles e humilhar o rei francês. Iriam conceder-lhe terras, e Josef escolheu terras da Palestina, para satisfazer Beatriz. Esta não coube em si de emoção quando este lhe transmitiu a boa nova, e perdoou de imediato pela sua ausência em relação à família e à sua filha Reyna.

Djerba

Beatriz queria reconstruir o Tiberíade, reerguer todas as ruínas, reunir todos os irmãos. Morreu Roustem Paxá, e foi substituído por Ali Paxá. Beatriz iniciou os preparativos da partida para a Palestina, esteve reunida, entre outros, com arquitectos e mercadores chineses. Foram para Edirna, visitar as sericulturas, de modo a aprenderem tudo sobre bichos-da-seda e recrutaram os seus futuros colonos. Beatriz tomou a decisão de mandar vir de Lisboa os restos mortais do seu falecido marido, Francisco Mendes, para juntar ao coração que estava na Palestina.

Lago di Tiberiade 1947

Partiram para Tiberíade, na Palestina, e à chegada, tal como em Ragusa e Salónica, a Senhora foi recebida com grande entusiasmo. Beatriz partiu depois sozinha para Safed, e passado algum tempo, temendo a sua longa demora Josef foi atrás dela, e encontro-a em casa do rabi Isaac Louria, “É profeta de Israel, Josef, prosterna-te”, disse Beatriz. Rabi Isaac dizia que a Senhora fora consagrada «centalha privilegiada», a reencarnação longínqua de Judite e de Ester.

Mais tarde voltaram para Tiberíade, e no dia seguinte partiram para o Sul da Palestina, para o Vale de Josafat, a fim de enterrar os restos mortais de Francisco Mendes junto do seu coração. Depois do enterro de Francisco, de construída a sinagoga, de instaladas as sericiculturas e realizadas as lamentações, estavam todos os deveres cumpridos, pensavam em partir. Mas apareceu lá um velho que andava a atormentar a comunidade, e quando Beatriz e Josef foram falar com ele, acusou-os de terem roubado as terras sem se preocuparem, que aquelas terras pertenciam aos árabes e que deles voltariam a ser. Tentaram convencê-lo de que as duas comunidades poderiam viver juntas, mas o velho não concordou.

Vale de Josafat

Antes de partir para Istambul, mandaram construir a sua casa, que Beatriz quis branca e simples, sem qualquer luxo. A guerra entre o Ocidente e os otomanos estava prestes a suceder-se. Os otomanos ficaram despreocupados quando souberam que o inimigo viria por mar, mas acabaram por ser derrotados. Piali Paxá não resistiu ao despeito sentido após a dura derrota e acabou por sofrer um acidente vascular cerebral que, naquela altura, dava pelo nome de apoplexia. Não estando em condições de continuar a assumir o seu cargo, foi substituído por Mehemet Sokolli.

Sokolli não gostava dos Judeus. Nessa época espalhou-se a lenda que Mehemet Sokolli teria escavado um túnel até debaixo do quarto do sultão e que todas as noites quando o sultão estava quase a adormecer este sussurrava-lhe ao ouvido
«Eu, o profeta Maomé, venho em nome de Deus ordenar-te que, num prazo de três dias, massacres todos os Judeus do teu reino e lhes confisques todas as riquezas», mas a verdade acabou por aparecer.

A tormenta estoirou na fronteira da Hungria, e o novo rei atacou as forças otomanas que estavam nas fronteiras. O novo rei era Maximiliano, amigo de Josef, mas desta vez iriam estar em lados opostos. A guerra teve inicio em 1566. Morreu sultão Solimão, e príncipe Selim, seu filho, tomou o seu lugar. Apesar de terem ganho a maioria das batalhas, Selim tomou a decisão de abandonar a guerra e voltar para Istambul. Três dias após os rituais fúnebres, o novo sultão foi visitado por altos funcionários do Império Turco, que vieram pedir-lhe que mantivesse a ordem de proibição do vinho no Império, mas Selim recusou e mandou-os embora. Sokolli falou com Josef para tentar que este convencesse o sultão a mudar de ideias, caso contrário nunca o perdoaria, mas Josef recusou, e sabia que um dia Sokolli tentaria destrui-lo. Sultão Selim prometia todas as noites a Josef que um dia este iria ser duque.

Príncipe Selim