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segunda-feira, 24 de maio de 2010

Josef Nasi – O Duque de Naxos

A história de Josef Nasi (1505 - 1579) é fascinante. É rica em aventura, coragem e resistência, mas também nos traz à mente a vida trágica que os judeus tinham naqueles tempos, quase no fim da Idade Média.

Joseph nasceu em Espanha, quando a Inquisição estava no poder. Órfão, foi criado por dois tios que tinham adoptado nomes espanhóis, Francesco e Diego Mendes. Os membros da família Mendes eram banqueiros de reputação mundial. Depois da morte de Francesco e Diego Mendes ficou sob os cuidados de sua tia Gracia Nasi.

Naxiotas, séc. XVIII, Ilustração de "Relation d'un voyage au Levant", 1781

O jovem Josef que cresceu como um homem de educação refinada, quando teve idade suficiente, assumiu a administração da grande casa bancária, que tinha renome mundial. No decorrer dos seus negócios Joseph fazia contacto com a mais alta nobreza e até casas reais de muitos países europeus. O Rei da França pediu uma grande quantia emprestada ao banco Mendes. Outro cliente era a Rainha Maria, regente da Holanda (irmã do Imperador Carlos V).

Josef Nasi, o brilhante jovem banqueiro, casou-se com sua prima, a bondosa e justa Reyna, filha da sua tia Gracia. Criou uma próspera empresa de importação e exportação entre os países do Velho e do Novo Mundo. O Sultão logo notou o grande génio deste novo súbdito e dedicava-lhe muita atenção. Joseph usou a sua influência com o Sultão para ajudar os seus irmãos que sofriam devido às perseguições, encorajadas pelo Papa Paulo IV em Roma.

O auge da carreira diplomática e comercial de Josef foi quando o seu amigo Selim II se tornou Sultão com a morte do pai. Um dos primeiros actos oficiais do novo Sultão foi retribuir os serviços leais de seu amigo judeu e nomeou Joseph como Duque da Ilha de Naxos. Morava no lindo castelo Belvedere em Constantinopla, a capital do Império Otomano.

Constantinopla, capital do Império Otomano

Josef Nasi tinha grande influência sobre Selim II, embora o grão-vizir Sokolli, um bósnio de carácter duvidoso, fizesse todo o possível diminuir a confiança do Sultão no seu conselheiro judeu. Os governantes da Europa logo perceberam a grande importância de Joseph no poderoso império do Sultão e procuraram a sua amizade. Outro monarca que estabeleceu relações de amizade com Joseff Nasi foi o Rei Sigismundo da Polónia. Graças a esta amizade, o Rei da Polónia tratava seus súbditos judeus com bondade.

Após a morte do amigo Sultão Selim II, a sorte de Josef mudou. O novo governante era o cruel Murat, que estava sob a influência do pior inimigo de Josef Mohammed Sokolli. Os serviços de Joseph não eram mais exigidos pelo novo Sultão, e Josef retirou-se para uma vida pacífica de estudo e boas acções no seu castelo de Belvedere.

Estabeleceu uma imprensa judaica em sua casa, que passou a publicar muitas obras importantes. A sua extensa biblioteca estava aberta a todos os eruditos. Escreveu um livro em defesa da religião judaica em espanhol, que depois foi traduzido para hebraico por um de seus protegidos, sob o título "Ben Poroth Josef".

Documento de Josef Nasi

Quando Josef Nasi, Duque de Naxos, faleceu em Constantinopla no Verão de 1579, todo o mundo judaico lamentou a sua morte. Só o Sultão ficou contente com a morte deste grande homem, pois confiscou toda a sua fortuna. Até a viúva de Josef, a generosa Reyna que faleceu em 1599, teve de deixar o lindo castelo em que vivia. A imprensa hebraica fundada por Josef foi fechada. Alguns anos mais tarde, o corcunda disforme a quem Josef contou toda a sua história, percorria todas as tavernas de Londres contando maravilhosos acontecimentos que quase ninguém acreditava. Um estudante de nome Christopher Marlowe, já embriagado, quanto escutou algumas das histórias só se lembrou de uma parcela da verdade. Consequentemente, fez uma peça intitulada O judeu de Malta que retratava um mau negociante judeu que havia enganado os príncipes europeus. Mais tarde, William Shakespeare, transformou Josef Nasi em Shylock, O Mercador de Veneza. Assim, a morte de Josef colocou um fim à obra da sua vida, mas a lembrança de seus grandes feitos, e a honra que ele desfrutou, permanecem através dos tempos.

William Shakespeare - O Mercador de Veneza


Fonte: www.chabad.org.br/biblioteca/artigos/personalidades.html

1 comentário:

  1. Postagem pertinente, visto ter feito a ligação entre a ficção e a realidade, i.e., de ter focado as histórias com história.

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